Assino algumas listas de email de economia, política, debates e afins, e lí hoje um artigo muito interessante sobre os governantes mais ricos do mundo.
Algumas pessoas comentaram sobre isso, riram dos paradoxos, mas deixaram passar desapercebidos alguns detalhes... mas se formos pensar nos dados e não apenas ler como "cultura geral", podemos tirar várias conclusões... vale a reflexão.
Conforme o artigo que menciona a revista Forbes, os dez governantes mais ricos do mundo são:
1) Rei Abdullah Bin Abdelaziz, Arábia Saudita - US$ 21 bilhões
2) Sultão Hassanal Bolkiah, Brunei - US$ 20 bilhões
3) Xeque Jalifa Bin Zayed al-Nahyan, E. Árabes - US$ 19 bilhões
4) Xeque Mohamad ben Rashid Al-Maktoum, Dubai - US$ 14 bilhões
5) Príncipe Hans-Adam II, Liechtenstein - US$ 4 bilhões
6) Príncipe Alberto II, Mônaco - US$ 1 bilhão
7) Presidente Fidel Castro, Cuba - US$ 900 milhões
8) Presidente Teodoro Obiang, Guiné Equatorial US$ 600 milhões
9) Rainha Elizabeth II, Reino Unido US$ 500 milhões
10) Rainha Beatriz Wilhelmina Armgard, Holanda US$ 270 milhões
A primeira coisa que me chamou a atenção nesta afortunada lista foi a quantidade de países árabes que estão inseridos aí. Obviamente, tanta riqueza vem do "ouro negro" que emana pelo lado de lá. Isso aí não é surpresa nenhuma, e não importa o quanto o Xeque ou o Emir queira não ser rico (imaginemos que alguém não queira ser... suposição mesmo), ele simplesmente o é porque tem petróleo. Isso é fato. O que por um lado é muito ruim e pode se tornar dramático, porque a maioria estamos pautando grande parte de nossas economias em uma fonte de combustível finita, que será extinta mais cedo ou mais tarde.
A segunda impressão que tive foi a diferença de quantidade de citações entre os regimes: monárquicos, presidencialistas e fundamentalistas. A excessão do rei saudita, todos os países árabes citados são fundamentalistas, em regimes em que se tem considerável grau de apoio popular mesmo sem uma completa distribuição de renda. No entanto, regimes fundamentalistas estão muito mais expostos a guerras religiosas, confronto de facções e problemas gerados pelo fanatismo religioso local - o que os deixam longe de ser um regime e um povo traquilos.
Mas o que me chamou atenção mesmo foi que o sistema monárquico dos países citados, apesar de tudo, são de países muito desenvolvidos, enquanto os presidencialistas que aparecem na lista são países que tem grande parte da população vivendo na linha da pobreza ou abaixo dela - e mesmo assim seus governantes estão milionários.
O caso de Cuba acredito ser mais que conhecido, população pobre, embargo econômico, discussões com os EUA e problemas com diplomacia. O Presidente Fidel - que teve sua riqueza atribuída especialmente ao seu vínculo com a indústria farmacêutica - reclamou, disse que é uma infâmia, que tomariam ações legais contra as "acusações" (?), etc. Aliás aí cabem mais dois pontos: o primeiro é que, por acaso (?), Cuba é conhecida mundialmente pela sua medicina (que na verdade não é acessível a todos os cidadãos, mas aos abonados americanos especialmente) e não tão por acaso assim vale muito a pena investir no setor farmaceutico lá pelas terras do Fidel. O segundo ponto é que o presidente cubano está como presidente a mais tempo do que eu me conheço por gente - quase uma monarquia, pra falar a verdade.
Já os da Guiné Equatorial, a 13ª pior expectativa de vida do mundo mas a 5ª maior produtora de petróleo do mundo, não é tão conhecido assim. Segundo os dados do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), tem o setor de saúde pública como o 12º pior do mundo, e o de educação inferior ao do Brasil - Guiné Equatorial é o 108º no ranking, que engloba 177 países. No entanto, o país teve o maior crescimento de PIB per capita (16,2%) e de IDH no período de 1990 a 2003, período analisado pela pesquisa. Vale lembrar aos desavisados que o PIB per capita é apenas "matemático", não é necessariamente distribuído.
É engraçado também quando temos a impressão de que justamente nos países presidencialistas os índices de corrupção são mais altos do que em outros sistemas de governo - até mesmo pela divisão do poder ser bem mais ampla. No entanto, isso vai exatamente contra a proposição do governo presidencialista, que é de distribuir melhor as riquezas - materiais e imateriais - do país entre seu povo, de forma democrática e igualitária.
Não quero fazer constatações sobre estes dados e tampouco afirmo que esse seja o único sintoma sobre a relação entre distribuição de renda e fatores sociais, e também neste caso específico o regime político (não chego a ter conhecimento ou "gabarito" suficientes). Mas é importante vermos uma notícia como essa e pararmos pra pensar no todo, no mar de coisas que vem por trás da mera curiosidade de um ranking de ricos e famosos.
As conclusões ficam por conta de vocês. ;)