As pessoas estão carentes, mais carentes do que nunca. Não passando por privações materiais, não carentes de dinheiro ou de bens, mas carentes de carinho, atenção, amizade, amor. Por todo lugar onde olhemos, encontramos pessoas desesperadamente carentes de afeto, em todas as suas formas e nuances. Precisamos de pessoas que caminhem juntos de nós.
As pesssoas estão carentes de alegrias. Por onde elas passam, o que encontram são problemas 'insolúveis' aguardando solução, pessoas precisando de favores e depois abandonando-as, tristezas profundas aguardando o esquecimento. Olham para o horizonte e, cada dia mais, tentam se conformar que o futuro não há de ser nada além daquilo; todas as esperanças e aquele sentimento de que 'somos muito especiais' e que 'vamos fazer a diferença' se foram, e em seu lugar fica o olhar triste e calejado de quem passa a acreditar que aquilo tudo foi uma ilusão de infância. As pessoas estão carentes de pessoas. Mas não de pessoas numericamente falando, mas de pessoas humanas ao seu lado, com sentimentos semelhantes, de amigos sinceros, de amores verdadeiros.
A sociedade exige e nós cumprimos: tudo parece que fica estagnado num oceano tranquilo, sem ondas, numa calmaria sem fim - no entanto, só ela mesma é quem conhece as correntezas que passam no lugar mais profundo, naquele cantinho escondido entre corais e tanta vida marinha. Ela sabe que dentro dela tudo é diferente, e por mais que seu externo aparente ser uma pessoa digna de causar olhares admirados ou mesmo inveja, em seu interior existe um turbilhão de sentimentos, de angústias e de mágoas. E assim criamos uma parede para nos proteger - afinal, no final das contas, não queremos ser conhecidos pelo que somos no interior.
Em uma vida quase claustrofóbica, nos recolhemos dentro de uma casca, tal como a tartaruga que, com medo, se esconde... não queremos ser atingidos por mais nada, apenas queremos ficar em nossos cantos... enquanto, intimamente, ficamos rezando todos os dias para que alguém venha e abra à força a casca, que a tire de lá e que mostre que o mundo realmente é aquilo que sempre se acreditou que fosse - e que as pessoas são boas.
De toda essa carência, de todo esse recolhimento, nascem relacionamentos transtornados. Amigos que invadem, amores que dependem, contatos que sugam. Famílias que usam-lhe de muletas, inimigos que acabam se encontrando no rival e multidões inteiras de solitários lado a lado.
Mas, na verdade, nós somos pássaros ensinados que ser tartaruga é o que é bom. E o que se faz hoje em dia é cortar a própria asa, e cortar a asa das pessoas ao nosso redor, para que nenhum vôe. Todos devem fincar seus pés no solo e inventar uma casca para ficar parecido com a tartaruga, e assim ter a segurança de estar em terra firme.
Mas, em nosso interior, sabemos que somos pássaros. Devemos voar. Os tombos fazem parte de tudo, e é o que dão prazer maior, pois o gosto da vitória é indescritível. Sabemos que para sermos feliz, devemos voar, e voar juntos. E para voar junto, devemos estar livres - jamais no solo, dentro de uma casca, mas sim tendo nossas asas em perfeito estado, abandonando a segurança do solo, chegando em um penhasco e pulando. Apenas tendo a certeza que nossas asas irão suportar nosso vôo e arriscando os primeiros tombos é que nossas asas ficarão fortes, e é nesse momento em que passaremos a planar não com o desespero das asas cortadas, mas com a elegância de quem já passou pelo pior.
Agora com licença que vou ver se as minhas penas, que aparei a tempos atrás, cresceram mais um pouco.
Um comentário:
muito bom te ler de novo maninha :)
Mais um pra lista de blogs a ler...
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