"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar." (Machado de Assis)

quarta-feira, julho 26

É estranho amadurecer

(para Wagner, Rodrigo, Jéssica e Mariana)

Conforme os anos vão passando, continuamos exatamente os mesmos, mas somos moldados dia a dia na forja da vida. É estranho amadurecer.

Continuamos as mesmas crianças que sempre fomos, no entanto somos obrigados a conviver e aprender com as delícias e dores de sermos adultos. A cada ano que passa, observamos o mundo de uma forma diferente, lemos os mesmos livros da vida com olhares completamente novos, criamos novos sonhos e destruímos outros tantos que a realidade nos faz perceber distantes ou inadequados.

Os anos passam e aquelas pessoas que sempre pensamos que estariam ali simplesmente se vão. Mais uma chama de vida apagada, que virou apenas história. Os nossos amigos seguem seus rumos, mudam de cidade, de país, passam a ser pessoas completamente desconhecidas, diferentes, alteradas...

... Mas tão desprotegidas e frágeis como sempre foram.

Quando crianças brincamos de casinha. Quando adultos, a casinha se torna uma família de verdade, vira responsabilidade para o terceiro expediente. As bonecas fofas tornaram-se filhos que cresceram e se tornaram adolescentes, trazendo a preocupação diária da prova-dos-nove da educação que se deu: será um bom aluno? está em segurança? será que sabe o que está fazendo?

O jogo de tabuleiro vira um leque de decisões que você precisa tomar.

Os bonecos cresceram. Os meninos brincavam com os seus rambos e fortes apaches. Hoje vão para o Iraque, o Líbano, ou permanecem em seus países lutando para ter uma vida digna. Os meninos andavam de bicicleta competindo quem era mais rápido, hoje competem no mercado de trabalho para ver quem é o melhor.

Os jogos de cartas se tornam regras sociais, onde é preciso conhecer todas para não ser jogado no ostracismo.

As pipas são nossos sonhos, que dirigimos e mantemos voando por uma finíssima linha - e basta esta linha estar no caminho de alguém para que esse alguém possa lhe cortar, e seu sonho assim se vai.

Você se torna o pião, que dependendo de como seja rodado, se mantém de pé ou simplesmente pára de rodar.

A vida real não nos permite ensaios. A vida real não nos permite erros sem que hajam consequências. Mas ainda somos os mesmos. A mesma criança que precisa de proteção.

Alguns entendem a importância e a estranheza do que é amadurecer, e procuram fazer o melhor possível, dosar seus passos para não errar, desejam construir uma vida sólida, racionalizar seu destino, ou ao menos passar por ela da forma mais leve e bonita possível.

Outros continuam achando que é tudo um prolongamento da infância que todos temos dentro de nós. Constroem famílias acreditando que tudo ainda é muito fácil (basta guardar os brinquedos quando enjoar deles), ou brincam de guerra achando que no final tudo estará igual - mandam tropas e mísseis para outro território como se estivesse jogando War no Natal com seus primos, e depois bastará recolher as fichas e guardar o tabuleiro.

Definitivamente é estranho amadurecer. Talvez mais estranho seja perceber-se a mesma criança, cercada por um mundo tão confuso.

terça-feira, julho 11

Segurança Pública - opiniões

Bem... chegamos ao final de copa, e agora o Brasil volta a pensar na própria vida ao invés de pensar naqueles "filhos da pátria amada" que estão milionários e vão morar fora do país.

Acredito que por toda essa aura que circunda Rio e São Paulo ultimamente - os dois maiores colégios eleitorais do país - um dos assuntos que será carro-chefe das propagandas eleitorais será a (in)segurança pública.

Ontem eu recebi uma suposta entrevista do Marcola (o "bandidão" da vez), que eu já imaginava não ser verdadeira, mas que depois me informaram que é uma provocação do Jabor. Enviei para alguns amigos para ver qual seria a reação. Alguns são de São Paulo, outros do Rio mesmo, alguns do Nordeste e do Sul. Absolutamente todos reagiram de forma idignada e me devolveram o email comentando sobre o enviado.

Mas, de todos os que recebí, estes me chamaram mais atenção:

O primeiro que recebi foi de um amigo que disse que o criminoso, tendo a oportunidade de ler 3000 livros (conforme foi citado na suposta entrevista), um dia se iluminaria e perceberia que está no caminho errado e seguiria o caminho do bem. Sinceramente não acredito nessa hipótese. Não que seja pessimista, na verdade não sou nem pessimista e nem otimista, procuro ter a visão mais realista possível. Acontece que estas pessoas não podem perceber outro caminho... porque para elas o único caminho que existe é o do crime. E, por mais que leia na prisão, toda a visão será deturpada para a realidade em que *aquela* pessoa está inserida. Talvez seja possível... sim... ms acredito ser uma visão um pouco romântica dessa grave situação.

Outro amigo me fez a importantíssima constatação de que parte da culpa é nossa, porque elegemos nossos representantes conforme os interesses próprios - e haja espaço para "chiquinho da pipoca", "cicraninho da van" e "joãozinho do ferro-velho" por aí. Isso realmente é fato. E até nós, o povo, favorecemos essa existência, quando vendemos nosso vergonhoso voto por uma camiseta.

Completando essa segunda opinão, uma terceira amiga foi mais além: disse que seria necessário que essa violência toda chegasse às classes mais altas para que sentíssem o efeito de tudo isso. No momento em que o César Maia tiver seu filho sequestrado, no momento em que o ACM tiver seu neto morto (na verdade isso seria o paraíso), talvez eles pensassem melhor em investir na Segurança Pública. Certamente ela está correta. Mas a pergunta que me faço é: não seria tarde demais? Quantas vidas perdidas seriam necessárias até que chegássemos a este ponto?

Mas o ponto final das opiniões mais interessantes que recebi foi a de um amigo que me disse: o problema não é o fato de termos Congressistas facilitando a vida do tráfico, mas de termos o tráfico representado no Congresso.

Faz todo sentido. Infelizmente, nos habituamos a termos bancadas de direita e de esquerda, bancada dos ecologistas, bancadas dos evangélicos, bancada dos deficientes... e agora temos as bancadas dos corruptos: sanguessugas de um lado, mensaleiros de outro, traficantes mais atrás. E absolutamente TODOS impunes e atuando ativamente na casa dos "300 Picaretas com anel de Doutor".

A pergunta que me faço é: acaso não deveria haver uma ÚNICA bancada no congresso: a bancada do POVO? Acaso todos não deveriam pensar juntos em soluções para a vida de TODOS? É um sonho distante...

Na minha opinião, o que acontece é que existe uma FALTA DE INTERESSE público para que o problema da segurança pública seja efetivamente dissolvido. Existe uma motivação maior do que esta, que é a boa e velha fórmula "angariar votos e se reeleger, para mamar nas tetas da grande mãe por mais quatro anos". Não falta apenas ética... falta ética, moral, vontade, preparo, sensibilidade social.

O Governo - em todas as suas esferas - se encontra mais comprometido de fazer publicidade, para que possa ser reeleito ou eleger seu sucessor. E aí vemos propagandas como "O Rio dar a volta pra cima", propagandas do governo federal, etc. Quanto será que investimos em propaganda? Será que seria suficiente para reequipar toda a polícia? Ou ao menos aumentar o vergonhoso salário da Polícia Militar?

E, enquanto isso que temos hoje for o pensamento vigente em nossa política, o Brasil não tem solução. E o último que sair, apague as luzes.
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