"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar." (Machado de Assis)

segunda-feira, outubro 3

A beleza das coisas

Sábado. Depois de muitos dias de tempo encoberto e chuva no Rio de Janeiro, acordei e tinha um sol maravilhoso, do jeito que todo carioca gosta.

No caminho entre Centro e Botafogo, comecei pensando sobre a imensa preguiça e cansaço que eu sentia. Mas depois, comecei a reparar nas pessoas caminhando no aterro e me dei conta de um erro que vinha comentendo apesar de exercitar para não fazê-lo: não ver a beleza das coisas.

Até hoje me lembro de quando vi pela primeira vez o Aterro do Flamengo, a Praia de Botafogo, quando caminhei sozinha pela primeira vez em Copacabana. Eu, criança, fiquei encantada com toda a beleza que - incrível - sempre esteve tão perto de mim, que morava na zona norte da mesma cidade, mas até então nunca tinha visto ao vivo a Lagoa iluminada à noite.

Hoje, que moro e trabalho próximo a tudo isso, parei de reparar nessa beleza toda. Trabalhar vendo da janela o Pão de Açucar, tendo o Cristo Redentor do outro lado, já não me faz parar para ficar admirando.

Conviver com essa beleza toda, que sutilmente nos lembra que Deus existe, já não chamava mais atenção do que minha rotina desgastante, e eu já não admiro diariamente o que pessoas do mundo todo pagam rios de dinheiro para conhecer. Até que eu tive esse estalo.

E me dei conta que, como tudo, o ser humano se acostuma ao que é bom e acha que é pouco, ou simplesmente ignora o que é bom, para se concentrar em coisas que não o são. É assim com aquela filha que tem tudo o que os pais podem dar e acham pouco, a moça que tem um namorado perfeito mas que ainda assim está insatisfeita "achando que falta algo", aquele profissional que está fazendo o que gosta e ganhando o que é justo, mas que ainda assim está insatisfeito e quer trocar de emprego...

É dom do ser humano ignorar o belo em detrimento do feio.

É mania nossa trocar o adjetivo pelo verbo.

E, na janela do ônibus, olhei apaixonadamente a lindeza do meu Rio de Janeiro. E prometí a mim mesma não me habituar novamente a deixar de ver a beleza... nem na cidade, nem nas pessoas.

Um comentário:

Fabio Rocha disse...

Me fez pensar esse texto... E essa é das maiores qualidades que vejo nos textos em geral. Fazer pensar. Fez pensar em porque as pessoas vêem Deus no belo (ando bem ateu) e também nesse querer sempre mais que é natural do ser humano. Parabéns... Beijos

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