"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar." (Machado de Assis)

quinta-feira, setembro 14

O ônibus e a infância

Manhã de sol e eu ia para o trabalho. Peguei aquele ônibus-nosso-de-cada-dia. Para minha sorte, sempre vou contra o fluxo e ele sempre vem relativamente vazio.

Mas o ônibus de hoje foi diferente... sentei naquele banco de frente para a cobradora, e percebí que ele era mais alto que de costume. Tão mais alto que todos os outros que eu não encostava meu pé no chão: ficava no máximo apenas com a ponta dos pés no chão. Imediatamente eu senti uma grande simpatia por ficar naquele lugar - fora a minha atração natural por ficar na janela.

Me vieram à mente as imagens da minha infância, de quando eu andava de ônibus sempre balançando as perninhas - indo para a casa dos meus avós comer aquela lasanha maravilhosa de domingo, indo para a casa da minha madrinha para brincar com meu primo, ou indo a qualquer lugar com a mãe do lado. E sempre balançando as perninhas....

E, enquanto eu vinha olhando a paisagem do Aterro do Flamengo achando lindo o dia azul emoldurando o pão de açúcar enquanto lembrava da minha infância, percebi que quase ninguém sentava no simpático banco. Pessoas sempre olhavam e depois assentavam em outros lugares quando percebiam a altura dele... outras, distraídas, se asentavam ao meu lado. Mas algo as incomodava, e logo elas saiam pra sentar no banco do lado, ou no de trás.

Então comecei a pensar se seria só eu a ter aquele tipo de lembranças doces despertadas por algo que possivelmente incomodava os demais. Imaginei se nenhum deles lembrou da infancia também. Ou se, porque eu estou caminhando para os 30 anos, está começando o saudosismo.

Balancei a cabeça pra afastar tanto pensamento junto, olhei pro aterro novamente e pensei: "quer saber? sorte a minha!"

E voltei a balançar as perninhas.

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